quarta-feira, 27 de junho de 2007

Chove não molha

Pior do que um homem que nos persegue, pior do que um homem que nos ignora, é aquele tipo de homem que nos persegue às segundas, quartas e sextas e nos ignora às terças, quintas e sábados.
Há homens assim.
Confusos, indecisos, que vivem mergulhados numa bipolaridade emocional com a qual nem eles próprios sabem lidar, quanto mais as mulheres que têm o azar de se cruzar no caminho destas criaturas.
O indeciso é por definição um tipo baço, com o olhar velado, que fala baixinho e vai dando a entender, ao longo de semanas, meses e por vezes anos, que até quer qualquer coisa mais séria connosco, mas que por uma infindável e inominável lista de razões, não se chega à frente.
É o ‘Senhor Talvez’.
O ‘Senhor Talvez’ está interessado, mas não apaixonado.
O ‘Senhor Talvez’ gosta de nós, mas nem tanto.
O ‘Senhor Talvez’ até é bom rapaz.
Mas infelizmente, não o suficiente.
O que o torna muito maçador.
Num universo ideal em que as mulheres poderiam fazer justiça pelas suas próprias mãos em relação a estes empecilhos sentimentais, eu não seria cronista nem escritora, mas antes lojista, feliz proprietária de um estabelecimento que venderia fórmulas mágicas que não existem no mundo real.
A saber: comprimidos para a paciência, injecções de sensibilidade, drageias de bons modos, xarope de mimos e, last but not least, tratamento por ampolas para a indecisão. Nessa farmácia do entendimento, poderia também existir uma secção de estética com produtos como pomada anti-pêlos no nariz, cinto anti-barriga e cápsulas para erradicar os pêlos nas costas.
É claro que este mundo virtual com o qual as mulheres sonham, nunca pode existir num mesmo homem, daí que uma sábia amiga minha, casada há mais de 20 anos com um choninhas simpático e míope, me desabafou entre dois chás no Chiado que nunca se tinha separado porque os homens eram todos tão parecidos, que ela corria o risco de encontrar um pior do que o marido.
Ninguém é perfeito, nem por dentro nem por fora, mas caros amigos, há que ser razoável; com a instabilidade económica e a crise que se arrasta no país e na mentalidade lusa, um pouco de decisão e de firmeza ajudava a reconstruir esta sociedade desmembrada com 70% de divórcios a assolar o território.
Os senhores da raça ‘Talvez’ deveriam ser sujeitos a pagar coimas cada vez que dão um passo em falso.
Até parece que se puseram de acordo com este tempo de chuva ‘molha parvos’ que nos roubou a Primavera e o optimismo.
Um homem que se preze, ou quer, ou não quer, e o resto é conversa.
Adiar decisões amorosas é o mesmo que continuar a morar num andar alugado sem pagar a respectiva renda.

MargaridaRebeloPinto

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